terça-feira, 13 de dezembro de 2011

DEUS, O HOMEM E O TEMPO.

Por Edmilson S. Tavares.

“Ditados de Agur, filho de Jaque; oráculo: Este homem declarou a Itiel; a Itiel e a Ucal: Sou o mais tolo dos homens; não tenho o entendimento de um ser humano. Não aprendi sabedoria, nem tenho conhecimento do Santo. Quem subiu aos céus e desceu?
Quem ajuntou nas mãos os ventos? Quem embrulhou as águas em sua capa? Quem fixou todos os limites da terra? Qual é o seu nome, e o nome do seu filho? Conte-me, se você sabe!” (Provérbios 30: 1 à 4)


O escritor brasileiro Machado de Assis descreveu o tempo como um grande tecido invisível, nele pode se bordar tudo ou também o nada. Nenhuma experiência humana ocorre fora das coordenadas de tempo e espaço. É sempre através de um “aqui-agora” que conhecemos e interpretamos o que chamamos realidade.


O tempo é uma esquina espiritual que torna possível ou não um encontro entre a alma e Deus. Este encontro tem um limite de tolerância que compreende o primeiro momento de vida até o último suspiro. Tal prazo curto se deve a um axioma da temporalidade: Não é o tempo que passa, somos nós que passamos.


Há um prazo de validade para se localizar a razão de ser homem. Quando esse prazo começa a expirar a alma entra em crise, descobre a dor do não ser e da possibilidade do nada. O estar homem é apenas o prenuncio do ser, caminho e abertura para Deus. Caso não seja encontrado, surge o vazio autêntico, o sentimento de estupidez e falta de inteligência espiritual.


O texto de provérbios aqui citado é tão conclusivo sobre a referida questão que se enquadraria como tese em qualquer matéria de antropologia teológica. É como um editorial da história registrando o drama da condição humana, do ser que sai em busca de si ou de ‘’Alguém ‘’ que lhe seja maior. A narrativa do autor se inicia com um pretenso diálogo entre a alma e Deus. De imediato há o registro da dor de se estar no mundo. A angustia existencial toma forma de sintomas e sentimentos trazendo efeitos colaterais, fadiga e exaustão.


Ser homem implica encontrar o sentido do que se é. Quando a passagem do tempo não escancara prontamente para alma as respectivas respostas, ela questiona a si mesma e a todo existir.


Segundo um autor existencial, na raiz da palavra antrópos está a ideia de alguém que olha para o alto. A carência do homem levanta seu olhar até Deus, a bondade de Deus baixa seu olhar até o homem, ambos os olhares se entrecruzam no “tempo-espaço” da vida. É o ser sendo pelo acontecer de um “Outro”, que lhe antepara e o impede de experimentar ou permanecer na grande queda, a eterna.


A busca de sentido não pode ser encontrado em “si-mesmo”, o homem é apenas criatura, não criador, do nada não pode surgir o ser. Embora o autor cite várias vezes a expressão Deus, há evidências de que não tinha conhecimento experimental d`Ele. Saber algo sobre alguém não implica conhecimento real desse alguém.


Deus não é uma ideia ou aspiração humana, é uma pessoa, e como tal só pode ser conhecido na esfera do relacionamento. Como bem disse W. Tozer: "Nos levantamos pela manhã e deduzimos que Deus deve existir, invés de ir em busca do Deus que existe vamos em busca do Deus que deve existir."


Temos aqui uma correção de rota no itinerário que a alma elaborava para encontrar-se como pessoa. O eixo horizontal, supostamente aquele que conduziria ao pretenso destino é deslocado para a vertical, a alma só se encontra quando se encontra em Deus.


A seguir o nosso homem emblemático, porta voz de todos os filhos de Adão continua em sua busca pelos porquês. Salta das questões subjetivas e caminha sobre interrogações de controle e harmonia do universo.


Para a alma não é suficiente ordenar o mundo interior, também quer saber quem sustenta o cosmos e não permite que o mesmo seja produto do caos ou do acaso.


A alma necessita de segurança para “ir e vir”. Embora resida num pequeno ponto do universo, tem consciência que qualquer intercorrência em outros lugares pode afetar sua pessoa.


O caçador de si continua em sua busca existencial, identificou a causa e solução para suas crises, e também que o universo não é dirigido por piloto automático. Agora se volta para outro propósito, personalizar esse “QUEM”, conhecido só intuitivamente, mas ainda oculto e obscuro.


O auto-caçador quer a certeza final, procura um intermediário entre ele e Deus, alguém que faça a ponte entre o humano e o Divino, "um" Deus que tenha um rosto. Ele pergunta se Deus tem um filho, alguém que O represente e cuide de Seus negócios na terra.


O auto-caçador reconhece seus limites, sabe que não pode ir até Deus, mas Deus pode vir até ele. É aqui que o cristianismo difere de toda religião, seita ou filosofia. Imagine um edifício com certo número de andares, o homem morando no primeiro e Deus no último, a distância entre eles corresponderia a mesma entre o céu e a terra.


Toda religião ensina que é o homem que aciona o elevador e sobe até o último andar para encontrar Deus. O cristianismo afirma o contrário, esse elevador tem um defeito técnico chamado pecado, não pode subir, só descer mais e mais. É justamente isso que Deus fez em Cristo, ele desce para consertar o elevador e levar o homem até o céu, o último andar.


A auto-caçada caminha para seu final, a busca do homem por si mesmo implica numa relação espiritual com outro homem, Jesus Cristo, o Deus-Homem. O homem da terra (Adão) está contido no homem do céu (Cristo), a existência aponta para um “lá” atemporal personificado em Cristo, que interliga as duas dimensões, a primeira como passagem, a segunda como destino.


Portanto, toda auto-caçada que permanecer sobre seu próprio eixo, redundará em frustração. É natural que as perguntas brotem em nós, mas as respostas não. A tensão de perguntar não pode ser confundida com a obrigação de responder, somos as perguntas, mas não somos as respostas, só Jesus é.

Nenhum comentário:

Postar um comentário