Sempre existiu um ponto de tensão na
definição da igreja e do estado e no papel de ambas trabalhando em conjunto
para o bem da sociedade. Muitos absurdos já foram cometidos por essa distância,
onde às vezes o estado parece ser o grande Satã e a igreja deve viver alheia as
decisões do estado.
A visão cristã do Estado é que o Estado não
deve ser “cristão”. O papel do Estado não é defender ou promover uma
determinada igreja ou religião. Entretanto, dizer que a religião nada tem a ver
com a ação política é lógica e historicamente falso. Religião e política podem,
sim, ser misturadas.
Em um momento como o que vivemos hoje é muito
fácil perder a esperança, cair no desânimo ou aderir ao cinismo. No entanto, as
verdades bíblicas e o propósito ético dos novos céus e da nova terra, “onde
habita a justiça”, nos inspiram naquilo que devemos fazer hoje. A fé cristã é,
ao mesmo tempo, utópica e bastante realista. O sonho permanece; os seus
portadores é que mudam.
A solução para os problemas políticos é
sempre política. A solução para a má política é a boa política, e para a má
espiritualidade é a boa espiritualidade. Não precisamos fugir para outro campo,
porque o Deus bíblico está em todas as áreas da vida humana.
O princípio de separação entre Igreja e
Estado, defendido por muitas igrejas cristãs desde as suas origens, é uma
constante advertência contra dois perigos: a) a imposição de uma igreja oficial
ou nacional, impedindo o exercício da liberdade religiosa; b) a alienação dos
crentes, quando se omitem de atuar como elemento profético para denunciar os
descaminhos de um governo. Em outras palavras: se a separação entre Igreja e
Estado garante a existência de um estado laico, impedindo que este exerça poder
sobre a sociedade através do discurso religioso, também evita que a igreja seja
tutelada pelo poder estatal, cerceando sua liberdade para denunciar os erros
dos governantes e fazendo dela um instrumento de chancela divina para
arbitrariedades e desmandos.
Mas além desta separação entre igreja e
estado, também há a questão de que religião e política não deve ser misturadas
eis como a religião no mundo atual adentra na
política: afastando-se desta ou procurando instrumentalizá-la em nome de uma
moral fundamentalista. Esta postura individualista e/ou conservadora é a
resposta aos que vêem na religião uma força que deve se aliar à política para
construir o reino de Deus aqui na terra, mas numa perspectiva coletivista e que
pressupõe uma opção política pelos pobres e oprimidos.
O senso comum diz
que religião e política não se discutem. Pelo contrário, precisamos refletir
sobre a relação entre violência e política e, por outro lado, entre estas e a
religião. Um simples olhar sobre a história da humanidade evidenciará a
simbiose existente entre política, religião e violência. Como podemos esquecer,
por exemplo, a barbárie dos ‘santos inquisidores’ de ontem e de hoje, uns em
nome de Deus, outros em nome da razão do Estado? E o horror da noite de São
Bartolomeu? Que seria dos conquistadores da nossa América se não utilizassem os
recursos da Santa Madre? Seria a violência política suficiente para subjugar os
povos dessas terras? E não foi a religião o cimento ideológico que justificou
barbaridades como a escravidão do negro e a submissão secular da mulher? O
puritanismo protestante foi empecilho para a dizimação dos povos indígenas na
América do Norte? E as risíveis cenas, se não fossem trágicas, de religiosos,
de um e outro lado, santificando exércitos em guerra?
Gostemos ou não,
política, violência e religião entrelaçam-se em diversos contextos históricos.
Há mesmo determinadas circunstâncias onde estão de tal forma amalgamados que é
difícil distingui-los. Assim, a luta entre o Parlamento e a Coroa inglesa no
século XVII parece, ao estudioso desavisado, simples disputa religiosa entre puritanos, anglicanos
e católicos. O mesmo podemos observar quanto ao conflito histórico entre
protestantes e católicos na Irlanda e entre palestinos e israelenses no oriente
médio. Em ambos os casos, fatores político-sociais secularmente sedimentados e
influenciados pelas mudanças na política internacional produziram realidades
complexas com problemas aparentemente insolúveis fora do recurso à violência. E
mesmo quando busca-se uma solução pacífica, resultante das pressões políticas
internas e externas dentro de uma nova realidade internacional, a violência não
está descartada. E tudo parece uma disputa religiosa...
Excelente e reflexivo artigo !
ResponderExcluirO Blog Sav Josefino (www.savjosefino.blogspot.com), apoia este blog no segundo turno do prêmio Top Blog 2012.
Conte sempre conosco.
Fernando Luiz, que Deus nos ajude a manter essa excelência no trabalho de Seu Reino, parabéns pelo blog, que às mãos do Eterno continue a direcionar vocês para Lugares Altos.
ExcluirEquipe Teologia do Povo.