segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A Igreja e o Estado – Um Ponto de Tensão!


Por Messias Santos.

Sempre existiu um ponto de tensão na definição da igreja e do estado e no papel de ambas trabalhando em conjunto para o bem da sociedade. Muitos absurdos já foram cometidos por essa distância, onde às vezes o estado parece ser o grande Satã e a igreja deve viver alheia as decisões do estado.


A visão cristã do Estado é que o Estado não deve ser “cristão”. O papel do Estado não é defender ou promover uma determinada igreja ou religião. Entretanto, dizer que a religião nada tem a ver com a ação política é lógica e historicamente falso. Religião e política podem, sim, ser misturadas.

Em um momento como o que vivemos hoje é muito fácil perder a esperança, cair no desânimo ou aderir ao cinismo. No entanto, as verdades bíblicas e o propósito ético dos novos céus e da nova terra, “onde habita a justiça”, nos inspiram naquilo que devemos fazer hoje. A fé cristã é, ao mesmo tempo, utópica e bastante realista. O sonho permanece; os seus portadores é que mudam.

A solução para os problemas políticos é sempre política. A solução para a má política é a boa política, e para a má espiritualidade é a boa espiritualidade. Não precisamos fugir para outro campo, porque o Deus bíblico está em todas as áreas da vida humana.

O princípio de separação entre Igreja e Estado, defendido por muitas igrejas cristãs desde as suas origens, é uma constante advertência contra dois perigos: a) a imposição de uma igreja oficial ou nacional, impedindo o exercício da liberdade religiosa; b) a alienação dos crentes, quando se omitem de atuar como elemento profético para denunciar os descaminhos de um governo. Em outras palavras: se a separação entre Igreja e Estado garante a existência de um estado laico, impedindo que este exerça poder sobre a sociedade através do discurso religioso, também evita que a igreja seja tutelada pelo poder estatal, cerceando sua liberdade para denunciar os erros dos governantes e fazendo dela um instrumento de chancela divina para arbitrariedades e desmandos.

Mas além desta separação entre igreja e estado, também há a questão de que religião e política não deve ser misturadas eis como a religião no mundo atual adentra na política: afastando-se desta ou procurando instrumentalizá-la em nome de uma moral fundamentalista. Esta postura individualista e/ou conservadora é a resposta aos que vêem na religião uma força que deve se aliar à política para construir o reino de Deus aqui na terra, mas numa perspectiva coletivista e que pressupõe uma opção política pelos pobres e oprimidos.

O senso comum diz que religião e política não se discutem. Pelo contrário, precisamos refletir sobre a relação entre violência e política e, por outro lado, entre estas e a religião. Um simples olhar sobre a história da humanidade evidenciará a simbiose existente entre política, religião e violência. Como podemos esquecer, por exemplo, a barbárie dos ‘santos inquisidores’ de ontem e de hoje, uns em nome de Deus, outros em nome da razão do Estado? E o horror da noite de São Bartolomeu? Que seria dos conquistadores da nossa América se não utilizassem os recursos da Santa Madre? Seria a violência política suficiente para subjugar os povos dessas terras? E não foi a religião o cimento ideológico que justificou barbaridades como a escravidão do negro e a submissão secular da mulher? O puritanismo protestante foi empecilho para a dizimação dos povos indígenas na América do Norte? E as risíveis cenas, se não fossem trágicas, de religiosos, de um e outro lado, santificando exércitos em guerra?

Gostemos ou não, política, violência e religião entrelaçam-se em diversos contextos históricos. Há mesmo determinadas circunstâncias onde estão de tal forma amalgamados que é difícil distingui-los. Assim, a luta entre o Parlamento e a Coroa inglesa no século XVII parece, ao estudioso desavisado, simples disputa religiosa entre puritanos, anglicanos e católicos. O mesmo podemos observar quanto ao conflito histórico entre protestantes e católicos na Irlanda e entre palestinos e israelenses no oriente médio. Em ambos os casos, fatores político-sociais secularmente sedimentados e influenciados pelas mudanças na política internacional produziram realidades complexas com problemas aparentemente insolúveis fora do recurso à violência. E mesmo quando busca-se uma solução pacífica, resultante das pressões políticas internas e externas dentro de uma nova realidade internacional, a violência não está descartada. E tudo parece uma disputa religiosa...

2 comentários:

  1. Excelente e reflexivo artigo !
    O Blog Sav Josefino (www.savjosefino.blogspot.com), apoia este blog no segundo turno do prêmio Top Blog 2012.

    Conte sempre conosco.

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    1. Fernando Luiz, que Deus nos ajude a manter essa excelência no trabalho de Seu Reino, parabéns pelo blog, que às mãos do Eterno continue a direcionar vocês para Lugares Altos.

      Equipe Teologia do Povo.

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