Por Vinícios Surita Farabotti.
Em uma leitura de um artigo publicado
na revista Práxis Evangélica Nº12/2012 – FTSA –, William Lacy
Lane¹ nos remete a interessante reflexão sobre o resgate da presença de Deus
como um paradigma bíblico-teológico para as ações pastorais e missionárias da
igreja.
Em seu artigo, Lane
nos mostra que tanto no início, em Gênesis, quanto em Apocalipse, a Bíblia
trabalha a presença de Deus e sua comunhão com o ser humano, podendo assim
compreender que “a forma canônica aponta para sua função e,
consequentemente, para uma intencionalidade teológica…”. Sendo assim, deixa
representado o seguinte movimento:
Presença/Domínio
absoluto de Deus e comunhão com o ser humano
PARA
Ausência do ser
humano da presença de Deus
PARA
Domínio absoluto de
Deus e comunhão com o ser humano.
Lane
cita um trecho da obra de Philip Yancey², que mesmo sem intenção de fazer uma
explanação bíblica de Genesis ou Apocalipse, faz menção do inicio e do final
das Escrituras para também relacionar com a vida humana.
Toda história humana tem lugar em
algum ponto entre a parte de Gênesis e a última de Apocalipse, que tratam a
mesma cena, com as mesmas pinceladas: Paraíso, um rio, a luminosa glória de
Deus e a Árvore da Vida. Assim, a história começa e termina no mesmo lugar, e
tudo nesse ínterim diz respeito à luta para recuperar o que foi perdido
(YANCEY, 2004,p. 181)
O que para Yancey é
um “ínterim” que diz respeito “à luta para recuperar o que foi perdido”, para
Lane, esse período entre criação e consumação representa um hiato dessa
comunhão imediata e o distanciamento do ser humano de Deus. A presença de Deus
nesse hiato é mediada pela proclamação, pelas intervenções históricas e pelos
ritos, artefatos e símbolos religiosos e políticos do povo de Israel, pelo
ministério de Jesus Cristo e pela ação da igreja.
“A finalidade da
história humana é resgatar a presença de Deus ou, em outros termos, levar o
homem de volta para a presença de Deus. Essa finalidade deve moldar as ações
pastorais e missionárias da igreja.”, relatou Lane no artigo.
W.L. Lane nos
mostra cinco concepções da presença de Deus
A – A presença através da
proclamação da Palavra: A própria pregação e a prática da Palavra pelos
que a ouvem promoverão transformações nos indivíduos que, por sua vez, serão
agentes de transformação na sociedade.
B – A presença
mística/carismática: de acordo com essa tradição, a presença de Deus
se dá por meio da manifestação de poder e de sinais; experiências místicas de
indivíduos, poder no contexto do culto comunitário; o Espirito Santo atuando de
maneira especial e extraordinária.
C – A presença ética: Deus se
manifesta através do viver correto de seus filhos e filhas; quando o povo de
Deus vive o Evangelho do Reino. Essa presença ética se contrapõe a duas
questões: a) à corrupção, injustiça e alienação da sociedade ao sofrimento
humano e à justiça de Deus; e b) ao legalismo religioso que busca respostas
simplistas ao problema humano.
D – A presença sacramental: a presença
sacramental de Deus se dá na terra por meio das ações visíveis da igreja, isto
é, de seu povo escolhido, as quais representam a graça invisível de Deus
(MONDIN, 1984, p. 385 – 386).
E – A presença encarnacional: A igreja
vivendo a missão do Deus encarnado manifesta a presença de Cristo na terra. À
exemplo primeiro de Jesus Cristo, o Filho encarnado, em sua vida e ministério,
numa linguagem que fosse compreensível aos homens. A igreja é a continuação
dessa missão de Jesus, que deve se esvaziar e se contextualizar para a
proclamação do evangelho em seus atos sacrificiais e favor dos que estão longe
de Deus.
Lane
nos alerta dizendo que nenhuma dessas formas se cumprem de maneira plena, nos
remetendo também a presença de Deus na forma escatológica. “De um lado
está a partida do Éden, de outro, a chegada na nova Jerusalém. Entre esse hiato
está o povo de Deus – Israel no A.T e a igreja no N.T e na história –
proclamando, manifestando e restaurando a presença de Deus na terra.”
¹ Doutor em Teologia pela Escola
Superior de Teologia, EST. Professor da Faculdade teológica Sul Americana.
² YANCEY, P. Decepcionado com
Deus. S. Paulo: Mundo Cristão, 2004.
Fonte de reflexão:
LANE, W.L. Artigo: Resgatando a
presença de Deus: Um Paradigma Bíblico-Teológico para o ministério
pastoral. [Práxis 19 (2012) 33 – 48]
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