Por Edmilson S. Tavares.
O filme Deus no Banco dos Réus tocou na ferida vida aberta de todo aquele que exerce fé, a chegada da dúvida. O drama acontece na "ante sala" de um crematório onde vários judeus aguardavam a morte por asfixia nas câmaras de gás.
A questão debatida pelos protagonistas da historia trata da existência e providência de Deus. Se Deus existia, onde ele se encontrava naquele momento, se existia e não agia que tipo de Deus seria?
Para avaliar os respectivos temas constituíram um “Júri” com advogados de defesa e acusação, testemunhas e até um juiz. Paradoxalmente, Deus foi colocado no banco dos réus.
Embora a experiência da dúvida possa acontecer em situações extremas, também ocorre nas amenas. Como uma sombra ela acompanha cada fiel durante sua jornada na terra, como um “não-ainda” da fé.
A dúvida alcança uma zona cinzenta da alma, é como um ponto cego interrompendo a comunicação entre o fiel e Deus. Por instantes ou mais a alma fica a deriva no mar da vida, nenhum vento sopra, a calmaria chega sem prazo de validade para ir embora.
Uma das implicações negativas da dúvida é a maneira como é tratada pelos religiosos de plantão. Aquele que duvida é “persona non grata”, geralmente tratado como herege e colocando no "limbo" evangélico. A dúvida é vista por muitos como a lepra do coração, contagia por atacado, por isso muitos preferem manter distância daqueles que duvidam.
A caça as bruxas de quem passa por esta experiência é danoso para toda a comunidade, pois, a mesma só tem cura quando é diagnosticada e tratada. Se num ambiente que se afirma nominalmente cristão, o doente pela dúvida não pode expressar sua crise de ateísmo, que dirá aquele que já está nas margens da incredulidade.
A dúvida geralmente se manifesta através em duas áreas da personalidade, razão e emoção. Em alguns casos a alma não consegue crer racionalmente, tem dificuldades de compreender e aceitar uma doutrina, simples ou complexa, como o nascimento virginal de Cristo, Sua divindade, ou até mesmo a segunda vinda.
Outros já não sentem no coração o que a razão acatou como verdade, há ambivalência entre a razão do coração e o coração da razão, não se sente o que se sabe ou não se sabe o que se sente.
Em fé e descrença a autora Ruth Tucker cita o depoimento de um homem impresso num cartão sobre sua mesa de trabalho:
Eu sou pagão na mente e cristão de todo coração. Nado entre duas extensões de águas que jamais se ajuntarão, de modo que, conjuntamente, elas possam manter-me a tona. Mas, enquanto uma sempre me sustenta a outra sempre me deixa afundar.
O teólogo Alister Mac Graath em seu livro sobre o mesmo tema apresenta a dúvida como um processo que acompanha o desenvolvimento do corpo, como a dor do crescimento.
Se o corpo sofre para crescer e evoluir, a dúvida é a tensão que provoca na alma o desafio da superação, os limites são ultrapassados para alcançar o destino final.
Ainda citando Mac Graath através de outra analogia:
Se a saúde é a capacidade que o corpo tem de controlar a doença, a fé é o controle da dúvida para que a mesma não se torne incredulidade.
A dúvida não é antítese da fé, seu lado contrário, antes é o “marca-passo” que infla o coração (in) crédulo a manter-se em movimento. A incredulidade é a dúvida não vencida que se tornou crônica pela ausência de um tratamento adequado, de uma profilaxia da perseverança.
Quando o coração duvida ele precisa de mais força para continuar crendo. A dúvida aciona um alarme no mecanismo psíquico e predispõe a alma para suprir o que falta ou esta acabando. Ao sair em busca de "mais" fé, o auto gatilho da perseverança é detonado, e o instinto da sobrevivência emerge simultaneamente ocorrendo uma “desfibrilação” espiritual.
Desse modo, a pulsação volta e os sinais vitais da fé retornam e garantem a alma uma sobrevida para mais um dia, um ano, ou toda a vida.
Por mais de dez anos eu acreditei que a duvida era sinal de ausencia de fé. Hoje tenho uma compreenção mais ampla.
ResponderExcluirCerta vez ouvi que teologia era feita dentro de possibilidades Tal afirmação tem muita coerência.
Penso que no cristianismo só podemos falar de certezas no campo da fé, qualquer outra forma dificilmente não acabará em falácia, basta verificar os inumeros males feitos em nome de "certezas" cristãs defendidas com fervor pelos mesmos teólogos que hoje lemos e seguimos.
Isso sem falar da nossa mania de confundir convicção com certeza, mas deixa pra lá.
o que me chama à atenção nesse exuberante 'post' é a necessidade de mesmo vivendo como um crente (pessoa que crê), termos que nos dar ao luxo de duvidar, poi sem ela (dúvida) nossa vida Cristã estagnaria-se em suas convicções superficiais e passageiras. Glória a Deus nas alturas.
ResponderExcluirAmém Vinicius, que Deus continue a ministrar em nossos corações de uma forma poderosa, que Ele te guarde!
ExcluirEquipe Teologia do Povo.