Por Edmilson
Tavares.
Aquietai-vos e
sabei que eu sou Deus. (Salmos 46: 10)
Há no mundo
moderno uma compulsão pelo movimento, a adrenalina em alta é a ordem do dia
para muitos que vivem debaixo do Sol.
O correr atrás
do vento personificado pelas solicitações naturais da vida, trabalho, educação
e família se tornam imperativos absolutos. Tais semi-divindades reclamam as
devoções de seus súditos, e esses fielmente lhe cultuam. Se recorrermos a
Descartes parafraseando sua lógica diríamos: Eu não paro, logo existo.
Essa relação
neurótica como movimento encontra no personagem Jack Bauer uma notável
correspondência. Não é fácil “salvar o mundo” em vinte e quatro horas, o peso
de tal responsabilidade é proporcional ao resultado positivo ou negativo da
missão.
Embora Jack
Bauer só tenha vinte quatro horas para fazer-se valer, a duração do filme numa
linguagem semiótica ocorre simultaneamente de maneira rápida e lenta para o
expectador.
Rápida porque a
pressão da missão potencializa cada segundo em “hora-vida”, afinal trata-se da
sobrevivência do mundo. Lenta porque a relação sujeito-objeto, expectador-filme
super estimula o órgão de percepção, a visão.
Fisiologicamente,
todo órgão super estimulado aciona o sistema nervoso central provocando anestesia
e catarse na capacidade de reflexão, desse modo, perde-se a noção da realidade
e 24 horas se tornam dias, semanas ou meses, paradoxalmente há movimento sem
movimento.
Toda “octanagem”
acima do recomendado inibe o registro de fluxo do tempo, que embora seja real
pela noção de movimento, também é virtual por que é espiralmente centrifugo, sem
a qualidade necessária da experiência de passagem, de um antes, um agora e um
depois.
Assim é o homem
moderno, como uma “barata tonta” se move, mas para lugar algum, tem a urgência,
mas não o controle do tempo.
Tornou-se um
“worcarolic” existencial, trabalha para um patrão virtual (tempo) que o
contrata e o demite sem aviso prévio ou justa causa, sai da vida da mesma forma
que entrou. Este é um dos mistérios do tempo, insinua-se, mas só se revela para
aqueles que o buscam de verdade. As causas desse labirinto cronológico podem
estar vinculadas a duas questões: A fuga de si, ou a fuga de Deus.
Quem não para,
pode ter receio de se encontrar, ver-se como realmente é. Marcar um auto
encontro e investir tempo consigo pode ser doloroso, mas, também pode tornar-se
o caminho da cura. Pascal dizia que todo problema do homem consiste e não ficar
pelo menos uma hora e meia sozinho, se Narciso acha feio o que não é o espelho,
o espelho acha feio o que é o Narciso.
A outra causa de
tanto movimento sem sentido pode ser o medo de encontrar Deus. O movimento
acelerado horizontalmente pode ser indicio de uma fuga vertical.
Se o sábado
(tempo) foi feito para o homem, e não o homem para o sábado compete-lhe dominar
o tempo e não o tempo domina-lo.
Quando Jesus
visita a casa de duas discípulas, Maria uma das irmãs “cessa” seus movimentos e
queda-se a seus pés para ouvir-lhes os ensinamentos. Marta, ao contrário
continua atendo-se as coisas domesticas, ansiosa e inquieta, na linguagem de
Jesus, empurrada em varias direções.
Maria
imediatamente demarca uma fronteira, cessa o tempo externo e acessa o interno,
volta-se do aparente relativo para o absoluto e eterno, personificado ali pelo
próprio Jesus, o Filho de Deus.
Marta continua
em movimento, sua atenção ao relativo ocupa plenamente sua agenda diária, o
relativo cega-lhe a visão, mesmo diante do absoluto não consegue
desvencilhar-se de sua teia ocupacional.
Paradoxalmente,
embora Maria esteja parada, ela está em movimento, mas em outra dimensão, a
interna e vertical, e como escolheu a melhor parte, isso não lhe seria tirado.
Marta se
movimenta, mas para lugar algum, desliza numa espiral centrifuga descendente,
sua horizontalidade a mantém prisioneira de uma cela temporal, é tanto vitima
quanto carrasco de sua própria orientação.
É preciso
aprender a aquietar-se. Se a pausa na música possibilita o tempo necessário
para a próxima nota, a pausa na vida permite o tempo dos rearranjos, a
restauração de forças para suportar e superar cada manhã, para que aconteçam
com a qualidade necessária e suficiente.
No entanto, não
é apenas uma questão da pausa pela pausa, como um ócio deliberado pela cessação
de todo movimento, mas uma interrupção planejada e ansiada, por que envolve a
contemplação de Deus.
A pausa é uma
abertura no tempo corrido para o lutador da vida se preparar para um novo
“round”. É o momento que o canto de seu “corner” se torna o lugar mais maravilhoso da terra, pois
aquele que lhe dá água e pensa-lhes as feridas, seu “segundo”, é o Primeiro de
todo o universo.
Já em séculos
passados Thomas Merton nos advertia sobre o perigo desse modo de ser do mundo,
que o mesmo estava em vias de um grande naufrágio, que era necessário fugir
dele a nado, enquanto houvesse tempo.
No campo da
ficção Jack Bauer salvou o mundo, ou pelo menos seu país, mas pode não ter
salvo a si mesmo. Para salvar-se é preciso aquietar, descansar no criador e
salvador do mundo, Jesus.
Agostinho o
bispo de Hípona disse: Minha alma está inquieta e sempre estará enquanto não
encontrar repouso em ti, oh Deus. Portanto aquietar é preciso, viver não é
preciso – Aquietai-vos e sabeis que eu sou Deus.
O texto ficou ótimo, amei a analogia com a série e a forma como revela um pouco de nós... as vezes não paramos porque realmente temos medo de conhecer quem somos de fato, entender pra que vivemos e para onde iremos... visto que, se analisarmos nossa vida, veremos que há muito a repensar! Parabéns!
ResponderExcluirGrato pelas palavras de apoio Cíntia, que Deus possa continuar abraça-los de forma amorosa, lembre-se sempre: "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus..." [Salmos 46: 10]
ExcluirAmamos vocês,
Equipe Teologia do Povo.